segunda-feira, 8 de julho de 2013

Castigo

As verdades cruas se fazem evidentes
quando olhamos com foco para nossa frente,
quando olhamos para aquilo que nos rodeia,
quando olhamos para os homens presos na cadeia.

Eles assaltaram sem dó o caixa forte
e agora pegaram sua pena de morte
que não existe no Brasil - ou será que existe?
Será que na cadeia algum detento resiste
à ideia tentadora de meter bala na cabeça
de qualquer malandro safado que se esqueça
de qual é que é o seu lugar
que se esqueça da merda em que ele tá?

(Cárcere pra alma, prisão pro espírito
- vacilou, qualquer hora tomou tiro.)

Lá dentro a língua do sofrimento se entende,
mas a universidade não ensina pra gente, não
- Estudar a sociedade é diferente de vivê-la,
é muito diferente de estar dentro do esquema.

Semiautomática, metralhadora, 15 kg de crack
e vai saber o que mais, que a gente nem sabe.
Mas isso tudo só é a minha imaginação,
eu nunca fui lá dentro ver a verdade não...
Mas quem sou eu pra dizer quem é culpado?
O que eu sei é que também já fui roubado,
Mas se quer saber, eu também roubaria
pra fazer de minha mulher uma rainha
se desde que ela nasceu, ela só sofreu
- parece que da favela alguém se esqueceu...

(Cárcere pra alma, prisão pro espírito
- vacilou, qualquer hora tomou tiro.)

E hoje em dia é fácil falar que lá só vive o mal
que lá todo dia parece um carnaval,
a bateria tocando o som de tiro
todos os santos se foram pro Retiro
e de lá ninguém nunca mais voltou
pra essa terra de ninguém, pra essa terra sem doutor.

O defunto tá cantando, já deu meia noite
- tá na hora do açoite.

sábado, 22 de junho de 2013

o peso da moeda

Quem irá negar o peso da moeda?

Quando a fome grita e a pobreza aperta,
homem algum aguenta, todo homem se inquieta:
com a barriga vazia e a faca na mão
quero ver quem é que não vira ladrão
pra alimentar a sua filha com um resto de pão...

Certa vez um certo homem me pediu esmola
disse que queria lanche e também uma coca-cola,
disse vir de longe, disse que perdeu a honra,
que morava na rua e - porra! -
que história triste ele começou a me contar.

"Meu sinhô eu venho do Belém do Pará,
não tenho muito a dizer, pois eu não sou ninguém,
não tenho muito a pedir, a não ser alguém
que seja humano e que ouça o seu irmão
em calado desespero, sofrendo da solidão.

Minha esposa não veio, já não está aqui
Deus a tenha em paz, também quero partir...
Mas não me mato não, pois é coisa de fracote
e eu sou bem forte meu sinhô, já fui trabalhador
paguei toda minha dívida pro governo traidor
que tirou de mim a minha única filha,
que me transformou numa merda duma ilha.
Um homem sozinho, andando por aí sem rumo,
quando chega a noite no lixo eu sumo.

Uma criatura invisível no meio da sociedade,
às vezes desconfio que isso tudo não é verdade,
só pode ser mentira, falácia, ilusão
como pode um homem adulto ter sua prisão
na própria liberdade que o cerca?
a verdade é que o olho só enxerga
até o ponto em que começa nossa alma,
então vou com paciência, vou com calma
pois sei que minha hora vai chegar...
sei que um dia tudo vai mudar!"

E é nessa hora que o peito se encolhe
diante dos caminhos que a vida escolhe
pra nos mostrar a essência do ser humano
pra nos mostrar a indecência de ser mundano,
não poder alterar a pirâmide de sangue
ou a letargia dessa massa de gente gritante.

Mas sou só uma peça nessa grande construção,
um pequeno classe média buscando explicação
por que é que sou diferente de tantos?
por que é que alguns rezam para santos
para ter aquilo que é nosso direito?
para viver uma vida com o mínimo de respeito?
uma manta, um cobertor, um prato de comida,
uma família para aguentar a dor da vida.

A vida é foda, a batalha é longa.
E quem irá negar o peso da moeda?

domingo, 2 de junho de 2013

o grito de um homem envenenado

Não entendo quando dizem que não entendem o que digo;
não falo nada difícil, não falo nada demais,
só peço que entendam que somos todos iguais.

Não por fora, mas por dentro, no coração
onde a poesia nasce e nos eleva do chão
- ou não,
nos puxa pra terra, pra debaixo da rocha
mas de qualquer forma ela nunca se afrouxa
ao contrário sempre se afia como uma lâmina
correndo por dentro de toda a minha glândula.

Minhas células são africanas, indígenas,
portuguesas, importadas e nacionais
(E ainda há quem fale mal das rimas dos Racionais...),
mas essa agora não é minha questão
quero criticar a filosofia da pura aceitação
pois sei que todos são capazes de enxergar
só não sei até que ponto podem se repensar
- uma semântica baseada em todo o preconceito,
sentidos se construindo a partir do esquecimento
então peço que você busque na tua memória
tudo aquilo que já aprendeu da nossa história
de lutas, de conquistas, mas também de escravidão
e mais atualmente, de toda essa opressão.

Uma ditadura se instalando silenciosamente
excluindo todo aquele que não está contente
com a bola na rede, com a copa do mundo
todo que sabe que o dano é mais profundo
e não podemos esquecer nossos ancestrais,
os tempos de avôs e também de nossos pais.

Não podemos apagar o nosso passado
mas se que saber, também já to cansado;
estou ficando velho, a cada segundo aumenta minha idade
mas quero ser atemporal, eu quero ser a tempestade
algo que cai sobre vocês como algo inusitado
eu quero ser o grito de um homem envenenado!

Eu não sou músico!

Eu não sou rapper!

Eu não sou bonito!

Eu não sou legal!

E ainda assim, peço que me ouçam por alguns momentos
peço que ouçam todos esses meus lamentos
pois meu amigo se matou com uma corda no pescoço
e isso só me jogou para o fundo do poço:
já pensei em me jogar da janela do quarto andar
- juro por Deus, já pensei em me matar.

Mas agora sei que sou preciso nesta batalha,
então serei um guerreiro, eu serei uma navalha!
E quando alguém algum dia tentar impedir vocês
de realizarem seus sonhos, de alcançarem sua vez
eu estarei lá ao seu lado e vos direi: vão fundo!
se eles tentarem, vão ter que passar pelo meu defunto!

Eu sei muito bem que não sou lá muito forte,
mas quando há coragem não há alma que se entorte.

armas de fogo (ditadura do silêncio)

Armas de fogo escondidas no porão:
a escada em que desce a criança
é a mesma em que desce o ladrão
porém os olhos, que tudo veem, não veem igual
- arma, brinquedo, herói ou marginal

(a professora avisou pra não brincar com fogo)

Fogo e desespero!
Alguns dizem que Deus não existe
mas a fé de outros ainda resiste.
Fogo e desamparo!
E se teus ouvidos não concordam
com aquilo que eles provam, então...

Leve para a rua
pegue a sua luta e leve para a rua
leve para a rua
não deixe sua fúria morrer em casa, pois

É preciso pensar pra poder entender
é preciso amar pra poder sentir na pele
a dor de ver toda uma nação
se perder pra essa alienação
que corre como corre o tempo
consumindo a carne e também o templo
em velocidade e ritmos convexos
mas o que digo não é nada complexo

É só parar pra pensar, não parar de pensar
parar pra pensar, não parar de pensar
parar pra pensar, não parar de pensar
parar pra pensar...

É preciso pensar pra poder entender
é preciso amar pra poder sentir na pele
a dor de ver toda uma nação
submetida à ditadura do silêncio.

rimas misturadas com a terra

Uma bala, quando é perdida,
nunca mais se acha.
Ela vem voando rápido...
e no crânio se encaixa.

Não era isso que eu esperava
dessa minha terra...
Todo o meu dinheiro,
voando direto pra Inglaterra?!
ou pros Estados Unidos
dessa porra de América?!

E hoje todo pai bem sabe,
que o filho não tem como estudar.
O Governo quer nos comer vivos,
a gente vai ter que revidar!

Adquirir dignidades
em várias prestações...
Repensar lugares:
as favelas, e as prisões.

Às vezes me perguntam
se eu sou sóbrio.
É claro que sim,
não me alimento desse ópio!

Religião? Política?
Papo Furado!
De boas intenções o Inferno
e o Senado estão lotados.

Contra o crime,
eu ergo a minha arte!
Contra a injustiça,
eu faço a minha parte.

Construo os meus versos
em meio à essa guerra,
e as minhas rimas?
Eu misturo com a terra.

A terra, pra onde vou
bem fundo
quando do meu corpo
se fizer mais um defunto.

Mas por enquanto eu viajo
por este meu país,
falando por todo aquele
que se diz um infeliz,
todo aquele que supostamente
não tem voz,
só porque não foi "educado",
porque não tem uma pós.

Mas uma coisa eu te digo,
meu irmão:
Essa gente sabe quem é,
eles sabem onde estão,
mas isso você não vê
na porra da televisão.

Por isso, fica meu recado:
a guerra começou, não vá ficar parado.

No final, de fé e de honra
você tem que estar armado.